No Brasil, vinil sofre com falta de entidades que quantifiquem suas vendas

Nos EUA é possível detectar que o produto representou 62% do lucro total de música física no primeiro trimestre deste ano

O vinil parece estar reconquistando seu espaço na venda de música física. Nos Estados Unidos, a Associação Americana da Indústria de Gravação (RIAA, em inglês) detectou que o produto representou, no primeiro trimestre de 2020, 62% do valor total arrecadado nesse segmento de mercado, atingindo US$ 232 milhões dos US$ 376 milhões.

No Brasil, onde são produzidos entre 100 e 150 mil unidades de LP por ano a partir de uma das duas fabricantes nacionais, a Vinil Discos, o que se possui quantificado no quesito faturamento é apenas a fatia total do mercado de música física.

De acordo com o último levantamento da Pro-Música Brasil, entidade privada que representa as principais gravadoras do mercado fonográfico do país, feito em 2019 com base no cenário de 2018, o segmento atingiu faturamento de US$ 4,3 milhões naquele ano. O montante constatado pela análise significa, contudo, uma queda de 69% em relação ao saldo obtido em 2017.

Apesar de abranger a camada de música física como um todo, o estudo não possui quantificada de forma segmentada a participação do vinil e do CD na receita do setor.

“A questão de quantificar em dados a gente precisava ter um mapeamento da cena, dos outros fabricantes, dos selos e dos lojistas para que tivéssemos uma estimativa mais precisa a partir de dados empíricos e de fontes de pesquisa. Isso é muito complicado no Brasil”, lamenta o fundador da fábrica Vinil Brasil, Michel Nath.

Por parte do comércio lojista, o vinil se mostra um importante aliado nas vendas. É o caso da loja de artigos musicais Beco do Disco, aonde o produto chega a representar 40% do faturamento. Mas ainda assim, o resultado da varejista não representa o mercado nacional como um todo.

Foto: Andrea PiacquadioUm dos principais empecilhos para que o vinil reconquiste o prestígio comercial dos anos 80 no Brasil é o preço em que ele é comercializado. Muito diferente de 2013, quando o dólar teve queda e as bolachas foram vendidas a valores compatíveis, hoje, apesar de a moeda norte-americana operar em baixa de 57%, ela está cotada em R$ 5,58, o que afugenta os compradores do produto. Afinal, grande parte dos exemplares que circulam no país provém de importação.

No entanto, no Brasil o vinil não possui vida útil baseada somente na questão mercadológica, pois conquistou outro status. “O vinil virou item de colecionador porque sempre existem os saudosistas, que querem o vintage”, comenta o proprietário da loja de CD, DVD e LP Mechanix, Robson Sevilha.

Por essa razão, o vinil hoje ocupa outro lugar na vida social: como hobby. É o que acredita o proprietário da loja Beco do Disco, André Ferraresi. Segundo ele, o período de isolamento causado pela pandemia cooperou para essa constatação, pois fez com que as pessoas ficassem mais em casa e reutilizassem os toca discos.

Eis que surge a dúvida de quais são os gêneros musicais que puxam as vendas do vinil. Na Livraria Cultura, por exemplo, dos sete exemplares mais vendidos, seis provém do jazz. Já na Amazon Brasil, o jazz também figura na lista dos mais procurados, a qual também possui LPs de música psicodélica e clássica.

Segundo o fundador da Vinil Brasil, Michel Nath, o público do rock, da música negra e do hip hop são fiéis ao vinil. Mesmo assim, o empresário ressalta que não existe um único estilo musical que puxe as vendas e produções do produto. “A produção do LP não é estimulada por um único estilo. O que a gente tem é uma diversidade de pessoas interessada em preservar e materializar o seu legado com longevidade e qualidade”, constata.