No dia 01 de janeiro de 2000, era lançado Ilegal, o álbum de estreia do Tihuana. Hoje, 25 anos após o lançamento do álbum e oito depois do anúncio do encerramento de suas atividades, o grupo se reuniu, com a formação original, a qual abrange Egypcio nos vocais e guitarra base, Léo na guitarra solo, Román no baixo, PG na bateria e Baía na percussão, para uma turnê comemorativa.
Nessa sequência de apresentações, 25 shows serão realizados ao redor do Brasil para celebrar Ilegal e a própria trajetória do grupo. Essa será, oficialmente, a turnê de despedida do Tihuana. A partir desse contexto, Egypcio, vocalista do grupo, conversou com exclusividade com o O Prefácio e abordou algumas questões inerentes à sua história. Confira!
O Prefácio: O Tihuana entrou em cena no mesmo momento em que bandas como Raimundos, Charlie Brown Jr., CPM 22 e Detonautas Roque Club estavam moldando uma cena musical que marcou o início dos anos 2000 no Brasil. Como vocês avaliam o grau de influência do grupo no cenário do rock nacional?
Egypcio: O Tihuana surgiu no final dos anos 90, junto com outras bandas, como Raimundos, Planet Hemp, Charlie Brown Jr., O Rappa, entre outras. Foi uma cena que nós ajudamos a criar naquele período e que se fortaleceu ainda mais nos anos 2000. Eu realmente sinto que a influência do Tihuana no cenário do rock até hoje tem raízes naquela época.
Naquele momento, as rádios estavam abraçando o que chamavam de 'pop rock' nacional e muitas dessas bandas faziam parte desse movimento. Foi uma fase de muito sucesso, em que as rádios seguiam esse padrão e o segmento estava em alta. E deu tudo certo, né? Acredito que tudo isso foi fundamental para consolidarmos nossa posição como uma banda de renome, com impacto duradouro e que serve -até hoje- de inspiração para outras. O rock nacional, no final dos anos 90, estava fervendo e foi o palco perfeito para esse sucesso!
OP: Ao todo, o grupo lançou cinco álbuns de estúdio com singles de sucesso, como Pula!, Renata, Que Ves? e Tropa De Elite, só para citar alguns. Pensando nisso, qual é a música que melhor define quem é o Tihuana?
E: É muito difícil apontar uma música que defina o Tihuana. Uma coisa é certa: o Tihuana é uma banda de rock. Isso é inegável! Mas, ao mesmo tempo, não temos um som único ou definido. Sempre dissemos que tínhamos a liberdade para fazer o que quiséssemos. E, de fato, acredito que cada álbum do Tihuana reflete isso – mostrando a variedade de influências que trazemos para o rock, como música latina, reggae, e até sons mais pesados
Então, é complicado afirmar o que define exatamente o Tihuana. Mas, se fosse para ilustrar, diria que temos o lado 'Que Vês?' e o lado 'Tropa de Elite'. São duas músicas completamente diferentes, mas, no fim das contas, o que define o Tihuana é justamente essa mistura de contrastes e a liberdade de explorar sons diferentes.
OP: Mesmo a turnê comemorativa de 25 anos de história não sendo um Adeus definitivo, qual, na opinião de vocês, é o principal legado do Tihuana na cena tanto do rock como da música brasileira como um todo?
E: Estamos deixando claro que esta é uma turnê comemorativa, mas também de despedida. Quando eu saí da banda em 2017, a gente parou de tocar e não tivemos uma turnê de despedida, nem alguns shows finais para marcar esse momento. Cada um seguiu seu caminho e a banda ficou parada por oito anos. Quando eu convidei os caras para o retorno agora, foi justamente para celebrarmos os 25 anos da nossa história. Durante esses oito anos, cada um de nós seguiu projetos diferentes.
Então, essa turnê é, de fato, uma comemoração e uma despedida ao mesmo tempo. Por isso, quem quiser nos ver ao vivo precisa correr para garantir os ingressos, porque a turnê tem começo, meio e fim. Não vou dizer que é um adeus, pois 'adeus' é uma palavra muito forte, mas sabemos que há um tempo determinado para isso. Vamos fazer os shows, depois vamos parar novamente e cada um seguirá sua própria estrada.
Quanto ao legado do Tihuana na cena da música brasileira, acredito que, apesar de nossas influências de diferentes vertentes, a principal delas sempre foi a música brasileira. Todos nós, na banda, fomos profundamente influenciados pelo rock dos anos 80, que estava no auge e abriu portas para bandas como a nossa. Assim como fomos influenciados por gerações passadas, vemos que as gerações seguintes também se influenciaram por nós. E acho que esse é o maior legado que o Tihuana deixou para a música brasileira: essa troca contínua de influências entre diferentes gerações.
OP: Quando vocês miram no retrovisor esses 25 anos de história, qual a experiência que mais marcou a atividade do grupo?
E: Quando olhamos no retrovisor e vemos 25 anos de história, fica muito difícil apontar uma única experiência que tenha marcado a trajetória do grupo. São 25 anos, sendo 19 deles ativos, e é muita coisa para se lembrar! Passamos por grandes shows, festivais inesquecíveis, turnês nos Estados Unidos e Japão, e vivemos diversas situações inusitadas.
Mas, se tivermos que destacar um momento que ficou gravado na memória de todos, sem dúvida, é o Rock in Rio de 2001. Foi um marco na nossa carreira, especialmente porque foi a edição que marcou o retorno do festival para a Cidade do Rock. Para nós, aquele foi o momento em que o Tihuana se transformou. Antes daquele Rock in Rio, éramos uma banda promissora, e depois, nossa participação ali definiu nossa realidade e consolidou nosso nome no cenário nacional.
Sempre falamos, unanimemente, sobre essa apresentação como um divisor de águas. Foi algo realmente inesquecível e iluminado. E, para completar, naquele dia, também recebemos o disco de ouro, comemorando a marca de 100 mil cópias vendidas. Isso deu um brilho ainda maior a esse momento histórico para a gente.
OP: Muitas bandas percebem que estão atingindo seus objetivos quando têm um show sold out ou ouvem sua música tocar na rádio. No caso do Tihuana, qual foi o momento em que vocês perceberam que estavam alcançando o sucesso?
E: Eu compartilho da mesma opinião e acho que a sensação que tivemos foi bastante semelhante. O nosso momento mais marcante nesses 25 anos definitivamente foi o show no Rock in Rio. Na época, já tínhamos lançado três singles do nosso primeiro álbum: 'Praia Nudista', 'Pula' e 'Tropa de Elite'. E, quando chegamos ao Rock in Rio, a música 'Que Vês?' estava no auge, sendo o quarto single.
Estar no maior festival de música do país, com todos os olhares voltados para nós, foi uma virada de chave. Esse momento nos trouxe uma enxurrada de shows lotados e foi muito especial para a gente. Estávamos em todas as TVs e éramos a banda nº 1 na lista da Crowley, que classifica os sucessos do Brasil. No início de 2001, em janeiro e fevereiro, estávamos no nosso auge, bombando em todos os lugares, com shows lotados. Foi uma fase inesquecível, algo realmente incrível
OP: Com uma trajetória de sucesso, com diversos singles emplacados e, inclusive, em trilhas sonoras de longas-metragens renomados, qual seria o recado ou o conselho que o Tihuana poderia oferecer às bandas de rock que estão surgindo atualmente no Brasil?
E: Toda a nossa trajetória foi marcada por muito esforço, suor, sangue, sucesso, lágrimas, brigas, diferenças e, claro, grandes conquistas — uma mistura de emoções intensas. As músicas nas rádios, na época, tiveram um papel fundamental, e tivemos o prazer de ver nossa música 'Tropa de Elite' se tornar trilha sonora de um filme de grande, de sucesso, ao ponto de dar nome ao próprio filme.
O recado que costumo dar para as bandas de rock que estão surgindo agora é claro: sejam originais. Não tentem ser uma cópia de alguma banda que vocês admiram, seja ela consolidada ou não. É normal se inspirar em bandas antigas ou até mais recentes, mas a chave é ser autêntico, verdadeiro e único. Acredito que o segredo do sucesso está aí: ser genuíno e persistente, com muita determinação e perseverança. Com isso, o sucesso vem naturalmente. Então, vamos em frente, e que o rock continue vivo! Viva o rock!