O auxílio que nunca vem!

Vejo o mundo atual conforme a imaginação me impulsiona a fazê-lo. É como se todos nós estivéssemos em alto mar neste momento. Em um lado dessa imensidão marítima, encontra-se uma pequena parcela de poderosos, detentores dos maiores e mais confortáveis navios. No meio, há grupos de pessoas em médias e pequenas embarcações, que mesmo com alguma dificuldade, poderiam sobreviver ao grande problema que rapidamente, vai tomando conta do mar.

Para completar, na ponta do outro lado, há ainda a esmagadora maioria da população que, de acordo com a pirâmide social, são denominadas como pobres e ainda de forma mais dura, miseráveis. Meu lado imaginativo é feroz em traçar essa realidade paralela com a tempestade que atravessamos. Torna-se quase inevitável, depois de duas histórias que vi na TV, enquanto sigo à risca o isolamento social dentro do meu barco, ou melhor, no meu quarto, na minha casa, que me despertaram o lado criativo que julgava não possuir.

Ela, que tem cinco filhos ainda menores de idade, mãe solteira e é diarista numa casa em um centro da cidade, teve que parar de ir à luta. Ele, porteiro de uma escola particular e um dos provedores junto com a sua esposa, de uma casa de quatro pessoas, ainda tem a parcela da universidade para pagar. O homem diz com o peito inflado de orgulho que a sua filha mais velha será professora. Mas o pai não tem sequer uma moeda chacoalhando solta pelo bolso da calça - está isolado dentro de casa com a sua família.

De certo, a mãe solteira e o porteiro da escola nesse mar imenso estão dentro de pequenos e frágeis botes, com capacidade para tripulantes sobrecarregada, sem mantimentos para sobreviver a tempestade e arriscando-se das mais variadas formas para preservar o seu bem mais precioso: a própria vida e a dos que estão ao seu redor. Em imensas mansões, estão os detentores do poder, que ao invés de ajudarem, berram suas difamações uns contra os outros na disputa sobre quem manda mais.

É evidente que os donos do luxo são os mesmos ocupantes dos enormes navios, que poderiam socorrer imediatamente os pobres vulneráveis, que necessitam de algum tipo de auxílio de emergência, como a mãe solteira e o porteiro, que agora dependem de doações. No entanto, os detentores do poder, aparentam pouco ou quase nenhum incômodo ao ver o caos que se formou com crianças chorando, mulheres e homens se desesperarem e tantos outros à deriva na água.

Pobre dos que estão nos humildes botes. Triste é a realidade daqueles que ficam à míngua, esperando por uma corda ou um colete salva-vidas. Traumatizados estão, aqueles que já perderam parentes e amigos. Amedrontados ficam, os que possuem pouco aparato ou nenhum meio de ajuda para enfrentar as ondas causadas pela tempestade e pela guerra do poder. Na água, já estão a mercê inúmeros corpos, esperando apenas o devorar dos tubarões, assim como na terra, esperando as pás começarem a encobri-los.

Na contramão dos ricos, dos poderosos donos das mansões e dos navios, há a solidariedade de alguns que estão nos pequenos e médios barcos, que chega aos mais necessitados, como a mãe solteira e o porteiro. Enquanto quem ainda não recebeu uma corda para se segurar, aguarda ansiosamente o seu auxílio, que por enquanto não vem.

Ao passo que deixo minha imaginação vagar, sigo na esperança de que tudo se resolva o mais rápido possível e que menos vidas sejam ceifadas. Que os donos dos navios se sensibilizem, parem com disputas desnecessárias e ajudem quem mais precisa, até que todos nós cheguemos seguros em terra firme.