Final da Libertadores em jogo único

Em 2018 fomos pegos de surpresa quando a Conmebol anunciou que a final da Copa Libertadores passaria a ser disputada em jogo único. Desde sua primeira edição a final era disputada em dois jogos, porém uma confusão durante o torneio entre River e Boca pode ter reforçado a decisão. Mas eu me pergunto: será que a América do Sul está pronta para uma final em jogo único?

Acho que o primeiro fato a se levantar é a diferença geográfica. A Europa é consideravelmente menor que os estados do Rio, Minas e São Paulo juntos, e toda sua extensão é ligada por vias ferroviárias que ligam uma ponta a outra, coisa que aqui na América do Sul nem se sonha existir. Isso faz com que um torcedor do Flamengo tenha que tomar um avião até Lima, no Peru, para poder assistir à final. Ou seja, além de cinco vezes o tamanho, o torcedor terá de desembolsar seis vezes o custo a mais do que um torcedor europeu, levando em conta passagens aéreas, acomodações e o ingresso. Enquanto isso, um torcedor europeu tem a condição de assistir o jogo e voltar para casa no mesmo dia.

Dentre muitos outros problemas, como crises políticas - fato que tirou a final do Chile - questões climáticas e outros, vale lembrar um fator primordial: A final em dois jogos estimulava os times a buscarem uma melhor campanha, pois este tinha a possibilidade de decidir o título em casa, e mesmo quem não tem o direito de ter o segundo jogo teria ao menos os primeiros 90 minutos ao lado de sua torcida, coisa que agora a menos que a final esteja marcada para seu país e o clube conte muito com a sorte.

Segundo a Conmebol, essa medida foi tomada para aumentar a visibilidade do torneio, pois esta estará num dia e horário privilegiados – ocorrendo aos sábados às 17 horas, horário de Brasília - e também para aumentar a renda sobre o público entre os finalistas, uma vez que em jogo único este valor será dividido entre ambos. Porém, vale lembrar que em uma final em dois jogos é garantia de que sempre haverá lotação em ao menos um dos jogos, mesmo numa final menos popular, coisa que em jogo único pode não acontecer. Além disso, nem sempre a final será Flamengo e River.

Portanto, esta que é uma mudança nova só nos mostra mais um passo para querer transformar nosso calendário em algo um pouco mais europeu. A primeira medida para isso aconteceu quando estenderam o campeonato de semestral para anual - graças a Deus começa e termina no mesmo ano – e agora a final será disputada em jogo único. Então qual será a próxima medida? Será que de fato vale a pena mudar uma estrutura já consolidada e enfrentar as dificuldades já citadas, apenas numa tentativa de maior visibilidade? Não somos europeus e temos grandes diferenças dentro e fora de campo, isso sem contar as particularidades que talvez nos façam ter um futebol tão peculiar e encantador.