2022 é logo ali. Para alguns, a corrida eleitoral até o Palácio do Planalto já começou
Um país dividido e em franca efervescência política e social: assim é visto o Brasil no cenário atual. De um lado, bolsonaristas obstinados na defesa do governo e suas ações a todo custo; do outro, petistas e opositores que não concordam com a política praticada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Entretanto, o que se percebe é que 2022 já começou sem mesmo chegar - para ambos os lados. O ex-presidente Lula, desde que deixou a prisão, começou a se posicionar de forma mais efusiva contra Bolsonaro, principalmente no que tange o combate à pandemia de coronavírus.
O presidente não deixa por menos e o ataca sempre que tem a oportunidade de assim fazer. Isso sem contar as “motociatas” organizadas por seus apoiadores das quais tem participado, o que é visto por muitos como uma campanha antecipada ao Palácio do Planalto.
O mais intrigante de toda essa polarização é entender como foi que tudo isso começou. Em qual parte de nossa história recente se desencadeou esse fenômeno.
“Essa polarização se deve ao stress da social-democracia no Brasil. Foram dois mandatos do PSDB, sempre polarizando contra o PT –, e depois, quatro mandatos do PT, sempre polarizando. A crise por conta dos crimes descobertos pela Operação Lava Jato atingiu profundamente a cerne dessa aliança social-democrata, principalmente ao PT e suas principais lideranças, como o ex-presidente Lula”, observa o cientista político e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Adriano Cerqueira.
Ainda segundo Adriano, todas as acusações de corrupção enfrentadas pelo governo do PT deram espaço para que a direita se reorganizasse. A mesma direita que já teve uma franca ligação com o regime militar brasileiro, mas que se encontrava oculta, muito pelos acontecimentos políticos e sociais negativos atrelados à ditadura militar.
No último dia 25 de junho, o IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) divulgou uma pesquisa em que Lula aparece com 49% das intenções de votos e o presidente Bolsonaro com 23%. Sob esse cenário, o principal líder petista seria eleito no 1º turno.
O líder do executivo, por sua vez, respondeu: “Não acredito em pesquisas. O Datafolha em 2018 dizia que eu perderia até para o [Cabo] Daciolo e todo mundo viu o que aconteceu”, disse o presidente aos repórteres durante uma visita à cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo.
A separação de um mesmo Brasil
Lula e Bolsonaro, por mais que sejam personagens antagônicos, possuem mais coisas em comum do que imaginam. Além de terem uma poderosa retórica, capaz de atingir profundamente seu eleitorado, são demasiadamente conhecedores dos bastidores, do modus operandi da política brasileira e contam, na mesma proporção, com uma multidão que os apoiam e os rejeitam.
O que, de acordo com Cerqueira, contribui para que as pessoas defendam seus candidatos - mesmo que sobre eles possa pairar vestígios de comportamento ilícito.
“É típico de sistemas democráticos abertos; disputados. Em clima de polarização, estes problemas partidários tendem a serem vistos como um mal menor. O grande mal a ser atacado é o outro lado”, comenta o professor.
Um dos motivos que fizeram o presidente Jair Bolsonaro ser eleito foi a propagação de uma imagem popular. Igor Santana, de 31 anos, é segurança e eleitor de Bolsonaro. Ele vê no presidente uma figura que o representa como cidadão, conforme relata:
“Sim, votei nele com convicção e não apenas como um voto de repúdio ao governo anterior. Sou conservador e mantenho os valores que aprendi a cultivar nas forças armadas, tipo: amor à pátria, meritocracia, lealdade e respeito aos símbolos nacionais, preservação de nossa liberdade, crença no processo democrático e na livre iniciativa e expressão. Não compactuo com a mentira, nem tão pouco com a corrupção. Nesse sentido, o governo Bolsonaro tem atendido minhas expectativas”.
Em contrapartida, na contramão do que pensa o eleitorado do atual presidente está quem vê em Luiz Inácio Lula da Silva uma saída para a recuperação econômica e social do Brasil.
“Tudo indica que votarei em Lula ou em qualquer candidato do PT. O país está passando fome, o país está na miséria, está caótico. A gente não está conseguindo sobreviver com as coisas básicas que o ser humano tem direito. Eu acho que o país andou para trás com o governo Bolsonaro. Pela experiência que tive com o governo Lula, é um governo voltado mais para o povo”, afirma Guilherme Almeida, de 32 anos, bancário.
Uma terceira via
Em meio a toda essa guerra política existem milhares de brasileiros que não se identificam com a linha de nenhum dos dois lados. E isso ficou provado no pleito de 2018, quando mais de 42 milhões de brasileiros, entre votos nulos, brancos e abstenções, optaram por não escolher um candidato.
Porém, segundo Adriano Cerqueira, até o momento o cenário indica que não haverá uma terceira via, em detrimento de Bolsonaro ou o candidato do PT que, provavelmente, venha ser Lula.
“No momento não existe nenhuma liderança forte e capaz de enfrentar os fenômenos eleitorais Lula e Bolsonaro. Já era para ter aparecido alguém nesse sentido, e não apareceu. Não é fácil você construir um caminho para ganhar uma eleição presidencial,” pondera o cientista político.