Gelo da Antártida, que em alguns pontos possui 2km de espessura, esconde lagos glaciais, montanhas e vales

Última vez que continente teve seu gelo derretido por completo foi há 35 milhões de anos

Há 35 milhões de anos não havia gelo na Antártida. À época, ela fazia parte do supercontinente Gondwana e estava ligada à Austrália e América do Sul. Com a separação e a consequente glaciação, o continente foi totalmente alterado em sua estrutura.

Atualmente, 90% da Antártica é coberto por gelo. Porém, se toda a camada de gelo fosse retirada da superfície do continente, existiria apenas uma parte do território. Geologicamente mais antiga e localizada acima do nível do mar, ela é chamada de Antártida Oriental.

De acordo com o vice-presidente do Comitê Internacional de Pesquisas Antárticas e cientista-líder do Programa Antártico Brasileiro, Jefferson Cárdia Simões, ela tem vales, lagos subglaciais e montanhas submersos no gelo que, hoje, possui uma média de 2km de espessura.


Logo abaixo da espessa camada de gelo, lagos e rios.  Imagem: Zina Deretskynsf


Ainda segundo o cientista, tirando o gelo, toda essa paisagem ficaria aparente porque, em alguns lugares, a crosta subiria mais de mil metros. Por outro lado, a outra metade do continente antártico, chamada de Antártida Ocidental, está situada abaixo do nível do mar. “Por isso, se o gelo fosse retirado por completo, ela se tornaria um arquipélago”, esclarece Simões. 

Esse cenário não modificaria apenas a paisagem territorial do continente, mas também a paisagem da fauna e flora que nele habitam. Existe muita riqueza de vida na Antártida, além dos animais mais emblemáticos, como orcas, pinguins, elefantes marinhos, krill, petrel, e outros organismos como algas, fungos, líquens, musgos, samambaias e bactérias

Em um panorama de degelo, em que todo o clima e as características geológicas globais mudem, outras espécies de animais e vegetais poderão se dispersar e colonizar a Antártida. Para o biólogo Matheus M. Santos, nesse ponto pode começar a ser observada, inclusive, uma nova linhagem evolutiva de organismos, como das baleias cujos antepassados eram animais terrestres.

Segundo ele, ainda nesse sentido, aves poderão perder a necessidade do voo, focas passarão a andar normalmente em terra firme, musgos e samambaias poderão assumir tamanhos cada vez maiores. “A Nova Zelândia foi um dos últimos pedaços de terra que se separou da Antártida, então através da história evolutiva dessa ilha podemos entender o que pode vir a acontecer com a Antártida caso seu gelo desapareça”, explica.