Quem um dia irá dizer que não existe razão para as coisas feitas pelo coração?
Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?
Dia 20 de janeiro chegou aos cinemas brasileiros, em cerca de 500 salas, um dos filmes mais aguardados e aclamados pelo público: Eduardo e Mônica. O longa, que conta a história da música de mesmo nome de Renato Russo, veio para compor e trazer vida ao imaginário de uma geração.
É quase impossível conhecer uma pessoa que ao menos uma vez não tenha ouvido a canção. A obra de Renato Russo despertou inúmeras possibilidades e mexeu com o imaginário de diferentes gerações ao longo dos anos, mas que agora, em 2022, quase 4 décadas após a data de lançamento, ganha vida nos cinemas através de Alice Braga e Gabriel Leone nos papéis-título.
O filme é dirigido por René Sampaio e pela produtora Bianca De Felippes, parceria longa, já que ambos produziram juntos o filme Faroeste Caboclo (2013), outra obra inspirada nas canções de Renato Russo.
O filme, à primeira vista e com um olhar pouco atento, pode parecer apenas uma história de amor, um romance, um clichê. Mas nem os maiores clichês de amor deixam de ser complexos, conflitantes e intransponíveis. Quando se trata de pessoas e sentimentos, nada é simples, nunca será mais do mesmo. O longa tinha muitos pratos para equilibrar, desde a responsabilidade com a criação da obra de Renato Russo à adaptação da linguagem.
Mônica, uma mulher de vinte poucos anos vivendo na década de 80, em Brasília, pós-ditadura. Uma mulher livre, amante das artes, médica, politizada e com um relacionamento complexo com a mãe, além de outros dilemas da vida adulta.
Eduardo, por sua vez, um garoto de 16 quase 17 anos, estudando para o cursinho, morando com o avô, inseguro e enfrentando a confusa fase da adolescência.
Quais são as chances dessa história de amor dar certo? Essa é a primeira pergunta que surge e que ronda nossas sensações ao longo do filme. O casal reconhece e admite o quão opostos são, mas, ainda assim, se permitem a tentar, e não seria a tentativa uma forma de amor?
A trajetória da relação entre os personagens começa a entrar em ascensão: ambos passam a se envolver emocionalmente e permitir que aquela história aconteça. Uma relação pautada na coragem, no afeto e no respeito às diferenças: sejam elas as diferenças de idade, de personalidade ou de objetivo.
Mas, como em qualquer relação, Mônica e Eduardo atravessam algumas adversidades: mudanças, novos planos e, de repente, a sintonia passa a ser quase inexistente, a relação passa por uma queda.
Análise dos personagens:
Mônica: ela inicia a história após uma grande tragédia, e faz, de todo sentimento que inunda seu peito, uma alavanca. Mônica é veraz, é intensa, destemida e faz da sua vida um movimento político.
Eduardo: no início é um garoto tímido, verdadeiro e muito confortável na sua própria pele, apesar da insegurança que o cerca.
O encontro:
Eduardo fica intrigado com a personalidade da Mônica no primeiro momento, e esse sentimento rapidamente se transforma em uma paixão carregada de muita admiração. É ele quem se envolve primeiro e se coloca à disposição desse sentimento.
Mônica acha curioso aquele garoto, se diverte, assim como na música, mas não se permite uma entrega inicial. Ela nutre um carinho e uma admiração muito especial pelo Eduardo e, a cada minuto de filme, é perceptível o cair de fichas que ela tem: ela também estava apaixonada e disposta.
É absurdamente genial a forma com que os personagens e aquela relação vai se desenvolvendo e crescendo na mesma medida que te envolve e te cativa.
Mônica, apesar de todos conflitos, está inicialmente em uma fase muito próspera. Mas, em dado momento, por questões internas e externas, passa por um momento de baixo astral. É nesse instante que ela sente uma necessidade de repensar em alguns sentimentos sufocados e faz com que seja o estopim para que o Eduardo amadureça e desenvolva a sua personalidade de uma forma mais adulta.
O reencontro:
A relação dos personagens enfrenta altos e baixos e passa por diversos dilemas, mas o arco da construção do romance é bem desenvolvido. O reencontro conduz de maneira muito sutil e cativante, é uma história de amor realista e de fácil identificação.
Análise geral:
O filme não é uma comédia romântica. É muito político, com inúmeros elementos e situações da Brasília dos anos 80 que se faz presente nos dias atuais. Cada elemento utilizado é muito bem pensado e conta uma história. A liberdade apresentada é muito pontuada durante o longa, assim como as diferenças de estilo de vida, os posicionamentos políticos e as descobertas pessoais. E, em meio a tudo isso, uma história de amor, coragem e respeito.
A fotografia do filme é excepcional, o jogo de luzes ao longo da obra e o céu de Brasília ajudam a compor a história. A trilha sonora é certeira e envolvente.
E se você tem dúvida sobre a fidelidade do filme, a resposta é sim. Todos elementos e essência da música compõem o filme de maneira muito genuína. A escolha brilhante de pegar elementos pontuais da música e desenvolver, de maneira que construa a personalidade do personagem, foi uma sacada certeira. Além disso, a forma com que deram vida aos antagonistas, para que pudessem dar vida ao universo dos personagens, foi de muito bom tom.
A atuação e a química entre Alice e Gabriel dispensam qualquer tipo de comentário: definitivamente não poderia ter escolha mais assertiva para os protagonistas. O filme definitivamente foi um acalanto: leve e profundo na mesma proporção, capaz de se conectar com diferentes gerações. O legado que o longa deixa é sobre amor, respeito às diferenças e compreensão.
Confira o trailer oficial: