Paralelamente a essa hipótese, outras duas têm circulado com pouco fôlego no universo paleontológico
Há 150 milhões de anos, imensas criaturas habitaram a Terra. Os dinossauros foram animais que dominaram a vida no planeta por longas gerações. Mas o protagonismo desses seres teve um fim e é justamente esse ponto que fascina pessoas ao redor do mundo e ainda intriga a comunidade paleontológica.
A teoria mais aceita e que melhor explica o desaparecimento repentino dos dinossauros continua sendo a queda de um grande corpo celeste de 15km de diâmetro onde hoje se encontra a península de Yucatán, no México, causando a criação da cratera de Chicxulub. Apesar disso, outras hipóteses para esse evento circulam, mesmo com pouco fôlego, no meio paleontológico.
Uma destas hipóteses se vale da queda dos níveis de oxigênio no planeta. Apresentada em 1994 por quatro pesquisadores estadunidenses em um congresso da Sociedade Geológica da América, ela se baseia na ideia de que o volume de oxigênio caiu de 35% para 28%, fazendo com que os dinossauros não resistissem. Porém, já nesse mesmo congresso, essa teoria foi recebida com ceticismo pelos participantes.
De acordo com a especialista no estudo de dinossauros e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aline Marcele Ghilardi, isso aconteceu porque essa teoria não ofereceu uma boa explicação para a seletividade da extinção do Cretáceo-Paleógeno, além de não ter abrangido outros grupos de animais, contendo, assim, foco estrito nos dinossauros.
Por essa razão, Aline salienta que atualmente essa ideia não encontra suporte, pois seria, inclusive, contrariada pelas novas descobertas em relação ao funcionamento do sistema respiratório dos dinossauros.
“Ao contrário do que o modelo desses autores supunha, muitos dinossauros já tinham um sistema respiratório hipereficiente, similar ao das aves modernas. Por isso, a hipótese da falta de oxigênio pode ser refutada não apenas pelo fato de não explicar bem a seletividade da extinção do Cretáceo-Paleógeno, mas também por se basear em uma premissa que, com o tempo, mostrou-se não verdadeira”, explica.
A hipótese do declínio dos níveis de oxigênio, porém, não é a única que divide espaço com a teoria da queda do corpo celeste. Outra proposta que constantemente é mencionada é a da atividade de grandes províncias vulcânicas durante o final do Cretáceo. Um exemplo delas seria o imenso derramamento de lava que ocorreu na região de Deccan, na Índia, bem próximo ao fim desse período.
Parte da comunidade paleontológica, todavia, não está convencida da real contribuição desses eventos para o desaparecimento definitivo dos dinossauros não-avianos. “Muito provavelmente esses grandes eventos vulcânicos tenham contribuído a longo prazo para a extinção, ou, ainda, tenham sido responsáveis por grandes extinções locais. Mas a queda do corpo celeste ainda encontra um suporte mais forte para ter sido o ‘assassino’ final dos dinossauros”, especula a especialista no estudo de dinossauros e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aline Marcele Ghilardi.
Mas bem antes de serem dizimados, os seres vivos protagonistas eram os dinossauros mesmo quando suas primeiras espécies surgiram no planeta. Nessa época, eles viviam em um supercontinente chamado de Pangeia, uma massa de terra que tinha, em seu centro, um grande deserto que era inóspito e intransponível para a grande maioria da vida terrestre, incluindo os próprios dinossauros.
Dessa forma, os dinossauros se desenvolveram nas bordas desse super continente, onde o clima era mais ameno. E o sul do Brasil e partes da Argentina ficavam localizados nessas áreas. Não por acaso, em 2014 um esqueleto foi encontrado pela equipe do paleontólogo Rodrigo Muller nas rochas de uma cidade interiorana do Rio Grande do Sul.
Nomeado Gnathovorax cabreirai, o esqueleto foi tido, na época, como sendo o fóssil do dinossauro carnívoro mais antigo da Terra. Segundo Aline, porém, as rochas onde o Gnathovorax e outros dinossauros foram encontrados rivalizam em idade com algumas rochas argentinas.
Por isso, a especialista no estudo de dinossauros indica que tanto o Brasil quanto a Argentina possuem os dinossauros mais antigos do mundo. “Agora, existe uma grande disputa entre o Gnathovorax, do Brasil, e o Herrerasaurus, da Argentina, pelo título de carnívoro mais antigo. Alguns trabalhos apontam que o dinossauro brasileiro seria mais antigo, outros ainda sustentam que seria o argentino. Ainda é uma questão em aberto que depende de datações mais precisas, especialmente das rochas argentinas”, comenta.
Esquecendo essa disputa, o fato é que os dinossauros não habitaram somente o Rio Grande do Sul ou outros estados onde fósseis já foram descobertos, como São Paulo, Minas Gerais e Ceará. Eles habitaram todo o Brasil. Porém, o país possui características naturais que diferenciam sua atividade paleontológica daquela feita em outras nações.
Como o Brasil é um país tropical e úmido, não há em sua totalidade um deserto propriamente dito. Mesmo as regiões áridas do nordeste são locais em que se tem cobertura vegetal. Essa realidade é diferente daquela observada no meio oeste estadunidense, Mongólia e Patagônia, onde existe a predominância de rochas que, consequentemente, facilitam o encontro de fósseis.
Dessa forma, segundo o paleontólogo da USP/Ribeirão Preto Max Langer, a atividade paleontológica nacional é atrelada à atividade humana. Assim, localidades como a Chapada do Araripe, localizada no sul do Ceará, a região central do Rio Grande do Sul, o oeste de São Paulo e Triângulo Mineiro possuem mais registros de dinossauros.
Para o paleontólogo, então, essas são regiões brasileiras com grande predominância de registro de fósseis. “No sul do Ceará, os fósseis aparecem em pedreiras de calcário. No triângulo mineiro e oeste de São Paulo eles se pronunciam a partir de cortes ferroviários e rodoviários. Já no Rio Grande do Sul, além desses cortes ferroviários e rodoviários, se têm algumas feições erosivas chamadas de sangas, que são pronunciadas através da erosão causada pela ação humana”, explica. “O Brasil então tem essa peculiaridade em que a coleta dos fósseis está ligada a intervenções humanas no substrato”, conclui Langer.