Veja um trecho da sinopse do mais novo livro de Daniela Arbex:
“Nascida no interior de Minas Gerais, em 1924, Isabel Salomão de Campos é da primeira geração de brasileiros de uma família de imigrantes libaneses. Criada no sertão mineiro, em uma fazenda, a menina mostrou ser diferente desde pequena. Aos 9 anos via e ouvia coisas que não conseguia explicar, benzia pessoas sem acesso a remédios e a cuidados médicos, e, aos 14, conseguiu sozinha a autorização do prefeito de sua cidade para criar uma escola para os filhos dos colonos. A professora seria ela própria.
Foi no início da vida adulta que Isabel teve um entendimento mais amplo da sua vocação. Quando descobriu que as tais “coisas” que via desde a infância eram espíritos se comunicando com ela, Isabel deu início a um longo processo de aprendizado no espiritismo, sendo a primeira mulher a erguer publicamente sua voz para falar deste mundo invisível. Sua vida foi marcada pela luta contra o preconceito religioso e contra a invisibilidade imposta às mulheres.”
Já na história de Isabel, tudo é tão emocionante e verdadeiro que até o mais cético e descrente sobre religião irá se arrepiar com cada milagre e bondade cometida pela corajosa mulher. Daniela usou uma escrita tão prática, simples e rica em detalhes que em pouco tempo você está imerso na história e desejando ver com os próprios olhos cada ação que Isabel realizou.
O livro Os dois mundos de Isabel não fica preso unicamente à história da senhora espírita. Arbex teve a brilhante ideia de mesclar fatos históricos para contextualizar o tempo, desta forma, é possível se localizar e memorizar as situações com essas informações. E, se for mais afundo, é admissível ver que cada uma destas questões sobre o Brasil e o mundo refletem o comportamento da sociedade em cada etapa.
Como a citação à 2ª Guerra Mundial atrelada a história do irmão de Isabel, Felício Salomão e a recém criação da companhia Vale do Rio Doce, a ganância dos governos e a falta de suporte para aqueles jovens que foram para a guerra contra a humanidade de médicos atentos para salvarem a vida de cada um deles.
Arbex brinca com as informações, muitas vezes ela inicia um capítulo com a história de outra pessoa, neste momento é possível ficar alguns instantes perdido, mas logo tudo aquilo é amarrado para o instante que Isabel participa.
As histórias secundárias causam tanta comoção quanto os momentos vividos unicamente por Isabel. O momento mais marcante do livro é vivido pelos olhos de Augusto César Vannuci, diretor da Rede Globo, que faleceu aos 58 anos. Sua ligação com o espiritismo e a vontade de ir além do projeto material é fascinante e comovente.
Essas brincadeiras com o tempo e histórias secundárias causam a estranha e boa sensação de que você está sentado na sala da casa de Isabel, em Juiz de Fora, e ela está puxando na memória cada situação que passou e depois todo aquele conteúdo é despejado com muita euforia. Não existe pressa para terminar a história, mas em poucos dias, ou até horas, é possível finalizar o livro com esperança.
Esperança porque Isabel é uma mulher de muita garra, coragem, astuta e cheia de ação. Mesmo em tempos que o machismo era ainda mais presente, as falas e ações promovidas pela mulher são tão a frente do seu tempo, é difícil encontrar um trecho sequer que Isabel tenha recuado alguma ideia ou posicionamento para acatar decisões masculinas, inclusive de seu marido, que podemos nos inspirar nela.
Arbex produziu um trabalho tão bonito e profundo, é praticamente impossível terminar o livro e não ter se arrepiado, se emocionado, passado raiva ou ter gargalhado com as frases ácidas e diretas de Isabel. A riqueza de detalhes te leva para cada momento com tamanha precisão que quando fechamos o livro a vontade é de sermos pessoas melhores, cuidadosas, humanas e sensíveis às mensagens que o meio espiritual nos manda.