Estudos sobre suicídios em pessoas autistas são pouco valorizados

Muitas vezes, autistas com possibilidade de suicídio são interpretados de maneira errada

No atual cenário, o isolamento social está sendo vivido em vários países, devido a isso, foi possível notar o aumento de casos de suicídio. Entretanto, o que não é comumente falado é o suicídio entre as pessoas com autismo.

De acordo com a pediatra e neuropsiquiatra infantil Dra.Gessika Amorim, a falta de debate sobre este tema faz com que até mesmo a classe médica não tenha uma compreensão maior deste tema, ou tenha interpretações equivocadas, devido ao desconhecimento de pesquisas e estudos mais recentes sobre como identificar o paciente autista com potencial ao suicídio.

“É muito importante que o profissional, a família e a equipe que esteja cuidando deste autista esteja observando-o o tempo todo. Existe o isolamento social e existe a diminuição da comunicação, uma mudança destes comportamentos tem um agravamento ao isolamento. Ele tem cada vez mais problemas para dormir, perda do interesse de situações em que antes possuía, uma menos valia, uma baixa na sua autoestima.

Além disso, eles podem apresentar sintomas físicos de depressão, como automutilação, ideações suicidas, piorar as manias ou toques, as estereotipias e como já dito, pensamentos sombrios e o fator mais agravante: a desesperança.” Relata a Dra. Gessika Amorim.

Alguns estudos realizados nos últimos anos demonstram que a intenção de suicídio entre autistas está crescendo, e não restam dúvidas sobre a vulnerabilidade deste grupo ao suicídio.

Um estudo realizado na Suécia, em 2015, concluiu que os autistas possuem até 10 vezes mais chances de morrer por suicídio. Outra pesquisa realizada em 2014 e publicada na Revista Lancet Psychiatry com adultos com Síndrome de Asperger (transtorno de espectro autista de nível 1) revelou que 66% dos participantes confessaram pensar em suicídio e 35% já tentaram suicídio em algum momento.

Confira os primeiros indícios:

- Tristeza na maior parte do tempo
- Mudança no comportamento
- O isolamento aumentado
- Alteração no padrão de sono e alimentação
- Pensamentos negativos e desesperança

Democratização da informação

Em busca de aumentar a disseminação de informações sobre o autismo, a brasiliense Daniela Freitas, 34 anos, criou um canal no YouTube expondo ensinamentos, dicas e a rotina de sua família. Aos 15 anos, Daniela foi diagnosticada com autismo. Quando seu filho Aquiles tinha 1 ano e 11 meses, ela recebeu o diagnóstico dele. Em março deste ano, durante a pandemia, Daniela teve a ideia de criar o canal para mostrar a qualidade de vida que pessoas com autismo podem ter. 

“O canal foi criado em março deste ano com o objetivo de postar durante 30 dias até o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de abril), porém o canal atendeu mais do que as expectativas.”

Foto: Daniela e o filho Aquiles - Arquivo pessoalQuestionada sobre a dificuldade de passar o período de isolamento social, Daniela conta como foi para ela e o filho, que hoje já está com 3 anos: 

“Pra mim foi relativamente tranquilo. O maior empecilho no meu caso foi que sou muito ligada a rotina e eu melhorei muito nisso. Meu filho autista de 3 anos se adaptou muito mais rápido do que eu, e ele é um autista que exige um nível de suporte muito mais elevado”