Crianças possuem sinais que dão indícios de psicopatia

Diagnóstico pode ser dado somente após os 18 anos

Em dezembro de 1874, em Boston, o jovem Jesse Harding Pomeroy, de 13 anos, foi condenado pelo homicídio de duas crianças: um menino de quatro anos e uma menina de 10 anos. Isso o tornou a pessoa mais jovem da história do estado de Massachussetts a ser condenada em primeiro grau por assassinato. Além desses dois homicídios, Jesse já havia sido preso anteriormente por tortura a outros sete meninos, porém, foi solto por bom comportamento.

No ano de 1957, a cidade inglesa de Newcastle também foi palco de assassinatos envolvendo menores. Entre os 10 e 11 anos de idade, Mary Bell e Norma Bell foram responsáveis pela morte de dois meninos, os quais tinham três e quatro anos. Norma foi absolvida e, Mary, condenada à prisão.

Em 1993, aos 13 anos, Erick Simth foi condenado em segundo grau pelo assassinato de Derrick Robie, menino de quatro anos. Passados cinco anos, em 1998, o estado da Flórida vivenciou algo semelhante: Josh Phillips, então com 14 anos, foi condenado em primeiro grau pelo assassinato de Maddie Clifton, de quatro anos.

Apesar desses casos trazerem à tona o tema psicopatia infantil, essa condição só pode ser diagnosticada, de acordo com o neurocientista Igor Duarte, após os 18 anos de idade, mesmo que o jovem possua histórico.

Segundo ele, a formação anatômica do cérebro se encerra aos 20 anos, quando todo processo de mielinização dos neurônios é concluída. Do ponto de vista fisiológico, no entanto, o órgão possui desenvolvimento contínuo durante toda a vida do indivíduo.

Porém, quando se fala a partir da neurociência, é sabido que a criança trabalha com registros. E é na infância e adolescência que, segundo a neurocientista e psicanalista Ângela Mathylde Soares, a pessoa vive a poda neural. “Nesse momento, o cérebro vai fazendo suas faxinas necessárias e promove novas sinapses a nível de aprendizado e comportamento”, explica.

Para o psiquiatra forense Guido Arturo Palomba, porém, a pessoa já nasce com a psicopatia e, ainda segundo Ângela, essa condição pode ser observada através dos preditores, os quais são comportamentos pressagiadores elaborados através dos marcos do desenvolvimento.

Diagnóstico da psicopatia pode ser dado somente após os 18 anos - Foto: reprodução da internetEsses sinais podem ser percebidos por pessoas do circulo íntimo das crianças. Quando isso acontecer, o médico com especialização em psiquiatria pela Santa Casa de São Paulo Matheus Goulart sugere que os familiares procurem ajuda profissional, seja de psicólogos ou psiquiatra, para acompanhamento e obtenção de um diagnóstico correto. “Acredito muito, inclusive, na importância do ambiente escolar na identificação dos primeiros sinais de alguns desvios de conduta na infância”, adiciona.

No entanto, é importante que os familiares saibam quais são os comportamentos esperados para cada período. Afinal, de acordo com a neurocientista e psicanalista Ângela Mathylde Soares, aos três anos a criança já se encontra no transtorno opositor desafiador. É nele que o indivíduo apresenta situações de enfrentamento com leis, regras, limites e com os adultos.

Se não tratado, o transtorno opositor desafiador migra para um transtorno de conduta, que, para Ângela, é mais desafiante. Segundo ela, esse transtorno de conduta já tem, por regra, a necessidade de desafiar adultos, leis, regras e autoridades sejam elas quais forem. “Nós não podemos ficar cegos. Existem indícios e preditores, que são os protocolos de desenvolvimento. Se a criança não está dentro desses protocolos, significa que há algo errado”, alerta a neurocientista e psicanalista.