Com apoio financeiro de quase meio milhão, capital terá 32 blocos que chamam a atenção para inclusão, diversidade e respeito na folia
Um cardume de sereias vai invadir as ruas de Brasília (DF) no Carnaval, afinal, o bloco Sereias Tropicanas, formado por drags, artistas de dança, circo e teatro, é um dos 32 blocos carnavalescos LGBTs que desfilará na capital federal, cidade que neste ano bate um recorde histórico de blocos do gênero. Só em 2020 haverá o dobro de foliões em relação ao ano passado e que, além disso, terão apoio financeiro inédito.
O “boom” do crescimento do Carnaval LGBT em Brasília se deve, especialmente, aos recursos da emenda parlamentar de autoria do deputado distrital Fábio Félix (PSOL/DF), primeiro homossexual assumido a ocupar o cargo de parlamentar na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O recurso de R$ 433 mil foi destinado a 21 dos 32 blocos LGBTs e é coordenado pelo Coletivo Fora do Armário, que organiza o Carnaval de Todas as Cores e espera reunir mais de 200 mil pessoas.
De acordo com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, Brasília está na rota dos principais carnavais do país e terá mais de 100 blocos de tamanhos e público variados. A empolgação é tanta que os tradicionais bairros da cidade, conhecidos por siglas, também se transformam no Carnaval. O Setor Comercial Sul (SCS), por exemplo, mantém suas iniciais, mas passa a ser o Setor Carnavalesco Sul. De lá que sairá a maioria dos blocos LGBTs como o Vai ter Auê, Leds Go Gay, As Leis de Gaga, Vai Virado Viado, Sereias Tropicanas, Bloco das Barbadas, Pop Up Drag e Entro Hétero, Saio Virad@.
O Parque da Cidade também será palco para a diversidade. De lá sairão os blocos Gregos & Goianos, Bloco das Caminhoneiras, Triângulo das Brejeiras e REBU- O Bloco Sapatão. Outro ponto de encontro será a Praça dos Prazeres, na 201 Norte, que terá os blocos Rainhas do Babado, Bloco do Prazer e Bloco Vai, que Cola. Outros foliões sairão de locais como o Setor Bancário Norte, Taguatinga e Gama.
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Foto: Divulgação - Baile LGBT no Setor Comercial Sul
De dentro para Fora do Armário
Uma das idealizadoras do Coletivo Fora do Armário, Dayse Hansa, 37, conta que o grupo surgiu da vontade de se unir para se fortalecer e se proteger. “Temos uma situação muito séria no Brasil em relação aos direitos e à proteção a comunidade LGBT. O Brasil é o primeiro país no mundo onde mais se matam transexuais e travestis, além de ser o segundo em assédio moral. Machismo e violência são endêmicos na nossa sociedade”, afirma.
De acordo com relatório da ONG Transgender Europe (TGEu), de 2018, nos últimos anos o Brasil se mantém no primeiro lugar do ranking de assassinatos de transexuais e registra, em números absolutos, mais que o dobro de assassinatos que o segundo colocado, o México. A situação preocupante faz com que o Brasil seja visto como o país que exclui e mata por preconceito e intolerância.
Militante de movimentos de Direitos Humanos e LBGTs há 20 anos, Dayse se define como “preta, lésbica e que veio da periferia”. O desejo de exigir justiça e equidade fez com que participasse de movimentos desde a juventude. “Quando a gente sai do armário, as coisas se ampliam. Quando você toma a decisão de se impor na sociedade, a gente se liberta e fica mais feliz para virar a nossa essência”, reflete ela, que também é idealizadora do Bloco Rebu.
Dayse vê o Carnaval como o momento de externalizar as mazelas do povo, a crítica e a sátira. “Temos que botar o bloco na rua para mostrar as pautas LGBTs para a sociedade e reivindicar direitos”, exclama.
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Arte Drag e Pluralidade
Foto: Humberto Araújo - Bloco Sereias Tropicanas vai desfilar segunda-feira (24) no Setor Carnavalesco Sul, sob o comando do coreógrafo Gustavo Letruta (ao centro), que se apresenta como a drag Larissa Hollywood.
“O bloco é das mana, das mina e das mona”, define o organizador e coreógrafo do Bloco Sereias Tropicanas, Gustavo Letruta, 30. “Aqui as nossas minorias são as protagonistas”. De peruca vermelha, barba, maquiagem e lentes de contato coloridas, Gustavo, formado em Cinema pela Universidade de Brasília (UnB), se apresenta desde 2010 como a drag Larissa Hollywood.
Ele conta que a inspiração para o Sereias Tropicanas veio da mitologia. “As sereias são seres mitológicos que cantam e encantam. A ideia é trazer o feminino em suas várias facetas”, explica. A ideia, segundo ele, portanto, é pensar a axé music com um “estado de espírito”. O bloco vai apresentar 24 coreografias em um espetáculo de duas horas que também reunirá, às 16h da segunda-feira (24/2), no Setor Comercial Sul, área central da capital, performances circenses e pirofagia. A expectativa é reunir 20 mil pessoas.
“O Carnaval em Brasília está crescendo muito”, comemora o ator Bruno Coeli, 24, que é também um dos bailarinos do Sereias Tropicanas. Ele se apresenta desde 2017 como a drag K-Halla e é residente em uma das mais famosas boates LGBT de Brasília, a Victoria Haus. “Fiz o que eu não tinha espaço para fazer no teatro”, comenta o ator que é formado em Artes Cênicas pela UnB. Ele foi um dos bailarinos que passou na audição para entrar no bloco. Isso mesmo! Com a verba conquistada, esse ano foi possível profissionalizar o corpo de baile do Sereias Tropicanas, que passou por testes e seleção, além de investir nos figurinos e adereços.
“Somos muitas estéticas e muitos corpos”, diz o ator Paulin, 22, que performa a drag Cassandra Morgan. Ele conta que há dois anos, sem nenhum apoio, o bloco ensaiava em uma quadra de futebol no Guará, bairro de Brasília a 11 quilômetros da Esplanada dos Ministérios. “O apoio que temos hoje é surpreendente. Temos uma boa produção e muita gente envolvida. Hoje somos 20 bailarinos e ensaiamos três vezes na semana e até de madrugada”, comemora. Os ensaios acontecem no Centro de Dança do Distrito Federal.
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Foto: Humberto Araújo - Ensaio dos dançarinos do bloco Sereias Tropicanas
Preocupação com a segurança
A morte do jovem Matheus Barbosa, de 18 anos, assassinado durante um tumulto no bloco de pré-carnaval "Quem Chupou, Vai Chupar Mais", no sábado (8/2), em Brasília, chocou a população e acendeu o sinal de alerta para as autoridades públicas. O bloco, que reuniu cerca de 100 mil pessoas no Museu da República, foi marcado por tumultos e violência.
Matheus foi morto a facadas em uma tentativa de assalto. O Corpo de Bombeiros registrou seis vítimas de esfaqueamento no local e outras seis pessoas com ferimentos. Por conta da confusão generalizada, o bloco terminou uma hora antes do previsto. “Foi uma situação que fugiu ao controle. O bloco tinha mais de 100 mil pessoas e 90% delas não era LGBT. Infelizmente o bloco foi tomado por pessoas mal intencionadas que cometeram crimes e o pior deles foi a morte do jovem Matheus”, lamenta uma das idealizadoras do Coletivo Fora do Armário, Dayse Hansa.
Ela comenta que, preocupados com a segurança, os organizadores do Coletivo Fora do Armário e de outros movimentos, como a Campanha Folia com Respeito, se reuniram na última semana com representantes das secretarias de Cultura e Segurança Pública do Distrito Federal, além de equipes das polícias Civil e Militar, para cobrar medidas que garantam a segurança dos foliões.
“Nosso empenho é para criar um Carnaval de paz e respeito. Uma tragédia como a que ocorreu serve para apontarmos as falhas do estado, que foram muitas. Ainda temos uma gestão pública amadora do Carnaval em Brasília, com uma comissão que só se reúne 90 dias antes para planejar as ações”, critica Dayse.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal divulga, em seu site, que cerca de 1.800 policiais atuaram em ações preventivas no último fim de semana nos blocos pré-carnavalescos da capital federal. Durante as abordagens, foram apreendidas 50 armas brancas. De acordo com a secretaria, os militares seguiram a linhas de revistas e atuaram dentro dos blocos carnavalescos. A entidade garante ainda que equipes especializadas estão dando suporte às ações no Carnaval, como Cavalaria, Batalhão de Trânsito, motopatrulhamento e Batalhão de Operações Aéreas (BAVOP) e de Cães (BPCães), Rotam e Choque
Em sua terceira edição, a Campanha Folia com Respeito vai trazer acolhimento e ações educativas contra o assédio e a violência no Carnaval brasiliense. A coordenadora da campanha e produtora cultural, Letícia Helena, comenta que o apoio financeiro, por meio da emenda parlamentar, permitiu que pela primeira vez a campanha coloque nas ruas uma unidade móvel de atendimento aos foliões. “Não faremos atendimento médico, mas vamos procurar ficar sempre ao lado dos postos médicos. Nosso intuito é uma abordagem mais empática para pessoas em situação vulnerável, que possam estar expostas ao assédio e à violência, e também o incentivo e a orientação sobre denúncias”, explica.
Bloco Posudxs
O primeiro bloco LGBTQIA+ de Taguatinga, traz o glamour do luxo neste que é um bloco autossustentável e tem como lema Sexualidade Não é Gênero. Posudxs é uma manifestação da cultura Ballroom de Brasília com batalhas de vogue premiadas, muita música e arte.
O bloco se inspira na alegria da música brasileira em uma mistura rítmica democrática e revolucionária. Quem puxa o desfile é a DJ e artista perfomática Karla Testa e a DJ e designer Mica Brega. Em 2020, segue sua tradição de convidar artistas que estão fervendo no cenário musical brasiliense.
Data: 21 /02
Um bloco de Carnaval feito de brilho, com a missão em promover conexões entre diversão e consciência. Um espaço para compartilhar leveza, acolhimento, respeito, confiança e sustentabilidade. Elas que Lutem é seguro e acolhedor, livre de LGBTQIfobia, racismo, gordofobia, capacitismo ou elitismo.
Limbo é um coletivo de produção multimídia, que fricciona cultura e entretenimento. Suas produções apresentam música, performance vanguardista, instalação artística e cenografia. Há três anos as intervenções são realizadas de forma independente e de maneira espontânea e coletiva. Ouça apresentações musicais para transmissão na web.
Data: 22/02
O irreverente e animado bloco da diversidade, o LGBTS Folia nasceu para colorir a maior festa popular do DF. Atrações surpresa e DJs da cidade irão comandar a festa.
O Bloco mais sapaTÔMICO toma as ruas da cidade pelo segundo ano consecutivo e com novidade - a Banda REBU. Além de DJs e muito velcro, tem aquele rebuceteio, porque no universo da brejolândia - rebu é sagrado. O convite é pra chamar as “crush” tudo e os lemas são: Folia sempre com respeito e Não é não.
Mais uma estreia no carnaval de Brasília, o bloco feminista Triangulo das Brejeiras aposta em programação descontraída e com pegada jovem. Realizada pelo coletivo de mulheres TinderBeer, o bloco quer marcar historia no carnaval da cidade com muita cor, diversão e irreverencia.
Plural, inclusivo, circense, diurno, performático e malabarístico, o bloco é conduzido por artistas e acolhe as famílias LGBTQIA+. Diurno, a folia ocupa a rua com performances circenses apresentadas nos semáforos, lonas e palcos abertos.
Data: 22/02
Autointitulado como o “primeiro bloco after de Brasília” – surgiu em 2019 para reconhecer o crescimento e o potencial da cena eletrônica underground na capital federal. Com inspiração no Carnaval de São Paulo e do Rio, onde tradicionalmente a folia alternativa nunca dorme, a ideia do VVV é oferecer uma opção segura e conceitual para quem quer estender a festa até mais tarde. Além disso, tem como objetivo dar protagonismo para a comunidade LGBT, homenageando-a tanto por sua contribuição à cultura carnavalesca do Brasil como à cultura clubber do techno, house, electro e suas vertentes.
M-O-N-T-A-Ç-Ã-O é construir, unir partes, ora iguais, ora diferentes e é isso que propõe o Distrito Drag, coletivo que organiza o bloco. Não importa cor, sexo, aparência, religião, todes são bem-vindes a construir o bloco que reúne as diversidades de Brasília. O bloco é espaço para ser Drag pela primeira vez e para quem já arrasa na montação com cores, plumas, perucas, cílios e muita maquiagem. (youtube.com/watch?v=QlnxTJJaJGU).
Data: 23/02
Nasceu em 2019 com o intuito de abarcar a diversidade afetiva e corporal de linguagens artísticas e culturais do DF. Idealizado e produzido por duas lésbicas gordas, o bloco, leva a visibilidade sapatão para as vias carnavalescas do cerrado. Preza pelo surgimento de um ambiente de diversidade musical e partilha consenso, afetos e rechaça o racismo, LGBTQIA+ Fobia e gordofobia.
Data: 24/02
Data: 24/02
Data: 24/02
Data: 25/02
A comunidade de lésbicas ganha mais bloco. Satirizando um termo atribuído a mulheres lésbicas, o Bloco das Caminhoneiras realizará estreia com programação toda composta por mulheres lésbicas e bissexuais e promete, além das tradicionais marchinhas não-sexistas, um mix musical que vai do pop, rock ao funk e axé.
Data: 25/02
Data: 25/02